terça-feira, 13 de outubro de 2015

SURPRESAS DE UM DIA QUENTE









Dia quente... Logo cedo o sol castiga minhas têmporas. O asfalto parece o solo de panela sob o fogo. Mas preciso chegar onde devo ir, resolver meus problemas. Eles não param só porque está um dia incrivelmente quente e maçante.

Mas é claro, minha chegada parece durar uma eternidade. Ouço um farfalhar atrás de mim. Paro, penso, prossigo. Outro farfalhar. Me viro, ele grita e me olha cheio de curiosidade. Prossigo pela rua, ele me segue.

__Vai, chô! – Digo com um gesto exagerado.

Mas ele não liga, dá um latido feliz e passa por entre minhas pernas. É claro, acho que já era de se esperar que um filhote ficasse tão animado em um dia quente quanto em um dia de brisas suaves.

Talvez se ignorá-lo ele vá embora. Volto a caminhar cantarolando e ignorando seus latidos insistentes no meu calcanhar. Eu cantarolo, ele late. Canto mais alto pra ver se ele para de latir. Ele late mais alto. Ficamos nesta discussão até que estou quase gritando uma música qualquer e ele está gritando por um pouco de atenção.

Paro, olho pros lados. A rua está vazia.

__Olha, eu acho você uma gracinha até – começo me abaixando – mas você não pode vir comigo tá. Não pode. E não pode ficar me seguindo pela rua então tchau! – com um gesto rápido me levanto e dou passos largos, mas ele é mais rápido que eu e corre a minha frente, para me desafiando e inclina a cabeça numa imploração silenciosa.

__Eu já disse – continuo, com as mãos na cintura – você não pode vir comigo. Vai pra casa. C-A-S-A! – repito devagar implorando internamente pra que ele entenda – A sua dona deve estar te procurando. – ele faz um aceno rápido com a cabeça e dá um pulo. – Já que você vai agir assim não me resta outra opção! – retruco batendo o pé.

Claro que pensei em leva-lo pra dona, o único problema é que eu não fazia ideia de onde ela morava ou de onde ele viera. Ele parou, coçou a orelha e me encarou sorridente.

__Olha você precisa tentar encontrar sua dona tá? Volta. – Apontei pra trás e ele pareceu entender dando um muxoxo triste e indo pra onde eu indicava.
Segui meu caminho sem olhar pra trás. Ele devia estar bem. Não podia levá-lo comigo e ele teria que encontrar seu caminho sozinho.

Andei mais algumas quadras e cheguei ao meu destino. Abro a porta giratória. Quando piso o pé na loja a primeira coisa que escuto é um latido vindo de baixo. Ele me seguiu. Me seguiu silenciosamente pra que eu não o mandasse embora. As pessoas da loja me encaram. Eu o ignoro. Finjo que não o conheço. Ele late e abana o rabo clamando por atenção. O ignoro.

Passo o dia todo assim. A cada loja, a cada resolução de problema, e até no restaurante, ele me segue feliz e latindo por atenção. Eu o ignorei todo o dia. Não que isso tenha resolvido porque ele continuou o dia todo no meu pé como se eu fosse sua dona.

Já é noite e a rua está se esvaziando. Preciso voltar pra casa. Paro e olho pra ele num desafio.

__Preciso ir pra casa. Você precisa parar de me seguir. Precisa encontrar seu caminho. Bom, acho que você não tem dona senão ela teria vindo atrás de você horas atrás. Mas vai achar uma dona ou um dono que te ame muito tá. – afago sua cabeça - Adeus.

Me viro, dou alguns passos e percebo que ele não me segue. Olho pra trás, ele está lá onde o deixei, cabisbaixo. Chego perto dele. Ele deita de barriga pra cima e me encara. Não podia deixa-lo ali, ele é só um filhote.


__Vamos. – Digo com um aceno de cabeça e um sorriso, ele me segue.


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